Ela percebeu que um avião não levava só pessoas, levava sobretudo sentimentos, expectativas e principalmente saudade. Muita saudade.
Havia três anos que ela morava
ali, porém nunca havia reparado naquilo. Foi quando ele foi embora que os
barulhos, antes já ouvidos, passaram a chamar atenção, e com a saudade eles começaram
a ficar cada vez mais altos, mais frequentes.
Da janela ela podia ver os aviões com poucos segundos de voo, analisava
minuciosamente suas curvas rumo ao horizonte. Horizonte que mudava de nome para
cada passageiro dali, e ela imaginava-os também. Se colocava no lugar deles,
sentados naquele espaço mínimo, pensando em seu destino que para ela sempre era
uma mesma cidade. Pensava no homem de negócios que a todo momento olhava o
relógio já programando cada minuto de seu tempo, na família indo viajar que não
via o tempo passar, no pai voltando para casa depois de tanto tempo longe, na
filha saindo de casa depois de tanto tempo perto demais. Mas no que ela mais
pensava mesmo era que poderia haver ali um coração doente de saudade indo de
encontro a outro, pensava a todo momento na chegada no aeroporto, no toque dele
nela, no toque dela nele. Pensava mesmo era no exato segundo em que ele
estivesse verdadeiramente ao alcance dos olhos. Imaginava o exato instante em
que conseguiria sentir a respiração dele bem próxima, em que conseguiria ver de perto cada minúsculo
poro de seu rosto. Sonhava o tempo todo com o abraço dele, e em como se
encaixaria perfeitamente dentro daqueles braços. Ela não sabia direito o que estava acontecendo, mas suspeitava que o tal amor tivesse chegado para ficar por tempo indeterminado. Chegou a conclusão de que quem inventou a saudade bom sujeito não devia ser. Tudo isso ela conseguia
imaginar enquanto aquele avião fazia a curva, e então ele sumia e com ele iam
seus pensamentos. Até que outro avião partia e tudo voltava a acontecer.