quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Sobra tanta falta.




Ela percebeu que um avião não levava só pessoas, levava sobretudo sentimentos, expectativas e principalmente saudade. Muita saudade. 

Havia três anos que ela morava ali, porém nunca havia reparado naquilo. Foi quando ele foi embora que os barulhos, antes já ouvidos, passaram a chamar atenção, e com a saudade eles começaram a ficar cada vez mais altos, mais frequentes.  Da janela ela podia ver os aviões com poucos segundos de voo, analisava minuciosamente suas curvas rumo ao horizonte. Horizonte que mudava de nome para cada passageiro dali, e ela imaginava-os também. Se colocava no lugar deles, sentados naquele espaço mínimo, pensando em seu destino que para ela sempre era uma mesma cidade. Pensava no homem de negócios que a todo momento olhava o relógio já programando cada minuto de seu tempo, na família indo viajar que não via o tempo passar, no pai voltando para casa depois de tanto tempo longe, na filha saindo de casa depois de tanto tempo perto demais. Mas no que ela mais pensava mesmo era que poderia haver ali um coração doente de saudade indo de encontro a outro, pensava a todo momento na chegada no aeroporto, no toque dele nela, no toque dela nele. Pensava mesmo era no exato segundo em que ele estivesse verdadeiramente ao alcance dos olhos. Imaginava o exato instante em que conseguiria sentir a respiração dele bem próxima,  em que conseguiria ver de perto cada minúsculo poro de seu rosto. Sonhava o tempo todo com o abraço dele, e em como se encaixaria perfeitamente dentro daqueles braços. Ela não sabia direito o que estava acontecendo, mas suspeitava que o tal amor tivesse chegado para ficar por tempo indeterminado.  Chegou a conclusão de que quem inventou a saudade bom sujeito não devia ser. Tudo isso ela conseguia imaginar enquanto aquele avião fazia a curva, e então ele sumia e com ele iam seus pensamentos. Até que outro avião partia e tudo voltava a acontecer.  

domingo, 2 de dezembro de 2012

Tá tudo bem agora.


"And when the night is cloudy
There is still a light that shines on me
Shine on until tomorrow
Let it be"

                     - Let It Be, The Beatles-

Sempre parei pra pensar no que realmente significa o termo "ingenuidade", e depois de apontarem tal característica como um defeito em mim, a reflexão tem sido bem mais constante. Depois de passar dias atormentada com o que fizeram e queimar as mufas pensando cheguei à conclusão do que, para mim, é a ingenuidade. Ser ingênuo é quase que um dádiva, pra falar a verdade, porque só dessa forma você se torna imune à maldade alheia pelo simples fato de viver em um mundo no qual ela não exista. Enquanto se é ingênuo todas as pessoas são tão boas quanto seus pais, tão confiáveis quanto sua melhor amiga e tão acolhedoras quanto seus avós. E ainda, o ganho da maturidade só vem com a perda da ingenuidade, que infelizmente é o momento no qual pisam no seu coração e tiram as cores dos seus devidos locais, e muitas das coisas que antes eram bonitas ficam em preto e branco. É então que a vida te implica provas e te mostra que confiança não é panfleto jogado ao vento, tem que se escolher muito bem à quem conceder, te mostra que um sorriso não quer dizer nada na maioria das vezes, e que o silêncio pode significar muito mais do que anos de diálogo.

Há muito mais numa amizade do que apenas gargalhadas, fofocas e presença. Amizade deve existir até quando nada mais existe, até de longe, até na ausência, até no silêncio. Amizade é ser cúmplice, é sofrer junto, é brigar junto. Amizade é aceitar bem mais do que os defeitos do outro, é aceitar as qualidades e méritos, coisa bem mais complicada. Ainda prefiro usar a última meia gota de ingenuidade dentro do meu coração e acreditar que foi uma prova de amizade me mostrar que  não se pode confiar nem nas amizades mais valiosas, nem nas amigas vistas como as mais incríveis. Além de excelentes memórias que pelo menos para mim foram repletas de sentimentos verídicos, agradeço também por um coração destruído e a fé nas pessoas abalada. Agradeço pela visão crítica adquirida e por muita doçura perdida, agradeço pelo amadurecimento com perda de ternura. Agradeço por ter vivido uma mentira durante alguns anos, mas acima de tudo, agradeço por ter me tornado uma mulher. Uma mulher com sorrisos concedidos às pessoas certas, com o brilho de sempre nos olhos e com sonhos lindos, porque esses jamais serão tomados de mim.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Desabafo de momento.



Porque há o direito ao grito.
então eu grito.
Clarice Lispector

É quando se comete uma estupidez sem tamanho que se percebe que quando o assunto é amor não existe o certo e o errado, o com razão e o com a falta dela. Sempre são dois certos e dois errados, certos por estarem tentando resolver o problema, errados por terem criado o problema. A verdade é que quando a saudade aperta pra valer os princípios somem. No momento em que eu cedi ao coração eu pensei para onde tinha ido toda aquela raiva, toda aquela tristeza e onde tinham secado todas aquelas lágrimas porque, de fato, na memória elas não estavam.

Por quanto tempo temos que nos submeter à determinada condição desconfortável para enfim sentir conforto? Por quanto tempo o frio na barriga vai se sobrepor à dor de cabeça? Por quanto tempo as memórias vão tomar o lugar dos fatos?

Não quero que pareça que eu sou uma aspirante à Clarice, o fato é que, eu fiz uma burrada, sim eu fiz. Eu posso ter me desvalorizado, posso ter me contradito, posso até ter passado por idiota. Mas o engraçado disso tudo é que mesmo burlando todas as regras que meu subconsciente tratou de criar eu ainda sou a mesma.

A carne é fraca, a tentação é forte e os olhos... A os olhos! São azuis. Ele era um babaca, foi um babaca e muito provavelmente continua sendo babaca, mas felizmente eu cresci e passei a perceber que um belo par te olhos não esconde um caráter falho.